terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O que gerentes podem e o que eles não podem fazer em relação à motivação

Eugen Pfister

 

A baioneta na sua época foi considerada uma grande invenção, talvez por isso diziam que “com uma ela pode-se fazer tudo, menos sentar-se em cima dela."  A frase atribuída a Napoleão Bonaparte pode ser usada para falarmos sobre a motivação. Ela é uma força interna, pessoal, a único que pode nos predispor a fazer algo, inclusive sentar-se em cima dela se não queremos fazer nada. Enfim, pertence ao indivíduo e a ninguém mais.

Um dos papéis da organização e da gerência consiste em prover as condições necessárias para  que as pessoas se automotivem. O que, convenhamos, já é, em si, um enorme desafio.

Existem vários obstáculos colocados à gestão eficaz da motivação humana, e eles incluem desde as variações de interesses, necessidades e objetivos individuais até as questões estruturais (sócio-econômico-organizacionais) para atender múltiplas demandas da motivação.

Sob a perspectiva de cada indivíduo, é possível encontrar três diferentes perfis: (1) aqueles que estão 24 horas motivados; (2) aqueles que estão motivados apenas metade do tempo  e, (3) os que estão quase sempre insatisfeitos.

Sendo assim, aproximadamente dois terços do grupo serão pouco ou nada afetados pelos esforços gerenciais e organizacionais para criar um clima de satisfação no local de trabalho. O grupo meio período motivado é o mais susceptível a ser parcialmente influenciado pela ação externa (gerencial e organizacional). 

Mesmo o gerente babysitter* acaba, mais dia menos dia, percebendo-se impotente diante do complexo mundo da automotivação. E isso é bom, já que o reconhecimento dos limites contribui para atenuar o seu sentimento de culpa e desenvolver uma visão realista e pragmática diante do fenômeno motivacional e da gestão de pessoas.

É preciso clareza e coragem para aceitar que a função do gerente não é motivar, nem desmotivar e, sim, formar uma equipe de alta performance e automotivada. Para isso, escolha as pessoas certas, ou seja, selecione e mantenha uma equipe competente tecnica e emocionalmente preparada. Em outras palavras, uma equipe adulta e madura que não reivindique ser motivada para fazer o que deve ser feito.

Preocupe-se menos em motivar e mais em delegar responsabilidade, conceder empowerment (autoridade), prover feedback, desafiar a equipe, envolver o subordinado no planejamento e nas decisões e assim por diante.  Acompanhe o dia-a-dia da equipe não apenas por meio de relatórios e reuniões, mas nas condições reais de ambiente e temperatura. Seja justo ao avaliar e tomar decisões quanto a mérito e promoções. Converse com franqueza sobre o potencial e as oportunidades de carreira de cada subordinado. E, se for o caso, torne-se um coach ou um mentor.

Ah! É bom não esquecer: esteja motivado, dê o exemplo!

No mais, há espaço para a diversidade humana. Alguns são hábeis em pesquisar, calcular e em encontrar novas soluções. Outros planejam melhor. Há os que gostam de contatar pessoas, enquanto outros preferem trabalhar com coisas, equipamentos e sistemas. Coloque a pessoa certa, no lugar certo e com as ferramentas adequadas e é quase certo que você terá um profissional ocupado, produtivo e motivado.

Eventualmente, você terá que lidar com um colaborador talentoso e competente, porém, insatisfeito. Descubra a causa. Veja o que deve ser feito para recuperar a antiga paixão pelo trabalho. Se houver saída, trabalhem nela. Caso contrário, o desenlace é a melhor solução para ambos.

A regra é simples e ela diz que cada indivíduo é o principal interessado e responsável pelo próprio destino. Somos a maior autoridade em assuntos relacionados à nossa vida e carreira. Por conseguinte, não delegue para o seu chefe algo que ele nunca estará preparado para fazer: cuidar de você, das suas escolhas e de sua motivação.

* O gerente babysitter é um conceito que usei em vários artigos para criticar as ideias paternais / maternais que poluem o papel gerencial e reduzem o subordinado à condição de um ser dependente que precisa ser protegido, paparicado e manipulado.

 

 

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

A grande pergunta para o começo do ano

Eugen Pfister

É janeiro. As pessoas estão pensativas com o que querem fazer, melhorar ou mesmo mudar o rumo das suas vidas. Essa é uma das dádivas desse momento: tornamo-nos reflexivos e imbuídos das melhores intenções. O que segue, contudo, nem sempre combina com o planejado.
Infelizmente, é comum que a reflexão individual sobre o que queremos ser ou melhorar se perde na voragem do dia a dia, até que, no ano seguinte, uma nova oportunidade nos leve a filosofar.

Para Peter Drucker essa postura de repensar a vida não era simplesmente uma questão de ano novo ou velho. Aliás, ele gostava de perguntar às pessoas aquilo pelo qual elas queriam ser lembradas durante a sua passagem pela terra. Era uma questão que ele insistentemente fazia para corporações, executivos, profissionais, estudantes e para si mesmo.
Como o próprio Drucker respondeu como gostaria de ser lembrado? Ele disse que queria ser uma pessoa que provocaria uma diferença na vida dos outros. A quantidade de indivíduos não era importante, o que importava era capacitar essas pessoas a se tornarem eficazes naquilo que desejavam de fato ser e pelo que queriam  ser recordadas.

Interessante. Ele não pensou em si, mas em como ser um artífice de vidas e carreiras alheias e assim encontrou um sentido e a forma pela qual queria ser lembrado por todos  que o conheceram ou o leram seus livros. Mesmo uma pequena revolução na sua vida, pode significar uma enorme transformação na vida alheia.

Questões
E você já pensou na questão?A resposta pode ser mais simples do que imaginava.

 

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014


Mandela está morto, longa vida ao Mandela


Eugen  Pfister

Morreu junto com o líder sul-africano Nelson Mandela uma parte do seu legado. Ele, sem dúvida, foi um homem notável, com um sentimento de humanidade fora do comum.
Assumiu o controle de uma nação em conflito e segregada. Conseguiu segurar as pontas entre as facções em pé de guerra, acalmando os ânimos e refreando as correntes radicais do seu próprio partido e dos militantes do apartheid.

Creio que todos nos emocionamos diante das homenagens prestadas ao grande líder. Todas merecidas. A África do Sul perde o maior líder e um dos grandes homens de todos os tempos. Fez uma transição rumo à democracia pacífica, sem grandes incidentes e evitou que a nação mergulhasse nas guerras intermináveis que dilaceram outras nações africanas.
A nação multirracial ou arco-íris se tornou seu grande projeto de poder que foi capaz de conduzi-lo a despeito do seu passado rebelde e o ressentimento da nação de maioria negra contra os brancos. Parecia impossível que um líder  tido como terrorista e que foi preso por 27 anos promovesse essa reconciliação.

Ele tinha uma noção correta de que os brancos estavam lá há três séculos e que muitos sequer conheciam a sua distante pátria, além de conhecerem o funcionamento da burocracia governamental e como manter o país conectado com o restante do mundo, principalmente o primeiro.
A comissão da verdade   que ele criou contou a história do período sem esquecer os crimes do CNA (Congresso Nacional Africano ,partido ao qual pertencia) e dos segregacionistas brancos. Nada que pudesse servir de objeto de vingança foi esquecido.

Escolhendo esse caminho o  Mandela da paz se tornou uma figura política inesquecível e digna das homenagens recebidas. Esse foi o enorme e grandioso feito desse notável líder.
Seu grande feito foi conduzir a  nação  para a paz e não para a guerra. Porém,  aos poucos o CNA se transformou em uma máquina complexa, burocrática e corrupta. Ninguém, no futuro próximo, se elegerá na África do Sul sem pertencer ao seu quadro, e o futuro da nação arco-íris depende dos seus futuros chefes e facções.

Em algum momento a nação terá que libertar-se do poder absoluto do CNA, criando partidos igualmente viáveis e transformando o sonho de Mandela em uma realidade institucional, um legado que ele deixou como estadista, mas não pôde assegurar como  governante.
O problema da África do Sul não é  apenas  a diferença entre brancos e negros mas também entre as etnias negras. Nada destrói uma nação mais depressa que o conflito interno, e essa obra Mandela não pôde concluir.