Organizações,
gestão e democracia
Por Eugen Pfister
O futuro da democracia depende menos dos partidos e dos
políticos que do bom desempenho das organizações públicas, privadas e
sócio-filantrópicas e dos seus administradores, gestores, dirigentes e voluntários.
Vejamos por que.
Para Peter Drucker, o principal evento da história
contemporânea não foram as revoluções soviética e chinesa, nem a I e a II
guerras mundiais e sim o advento da sociedade organizacional. Herdeiros dessa
sociedade não questionamos as implicações de estarmos nas mãos de uma rede de
organizações com ou sem fins lucrativos que cuidam da saúde, segurança,
habitação, educação, emprego, carreira, alimentação, casamento, lazer,
religião, auto-realização, enterro etc., do nascimento à morte.
A sociedade democrática exige um sistema de gestão eficaz e
eficiente Se as organizações não funcionarem a contento o regime democrático
entrará em colapso. E a alternativa seria uma sociedade tutelada pelo Estado,
partido e caudilhos. Nela nos transformamos em súditos sem direito à liberdade
de pensar, de eleger o estilo de vida e acessar a informação com base no
discernimento pessoal.
A nossa sociedade também exige um grande esforço de
coordenação, cooperação, negociação e constância de propósitos. Líderes e
gestores organizacionais incompetentes são uma ameaça à democracia.
A má gestão gera um desempenho medíocre que pavimenta o
caminho rumo ao populismo ou totalitarismo. Afinal, como esperar que o
cidadão-contribuinte e consumidor defenda um sistema caro, corrupto e ineficaz?
Para evitar um regime autocrático, nossas organizações devem
agir como órgãos da sociedade que
contribuem para o bem estar da atual e das futuras gerações. A
administração e a gerência dessas organizações devem ser responsabilizadas pelo
desempenho de suas instituições que, na essência, significa fazer as coisas
certas com a maior qualidade e menor custo possível para que os beneficiários
se sintam respeitados e satisfeitos com os bens e serviços pelos quais pagam.
A autofagia caracterizada pela defesa intransigente dos
interesses particulares de cada um dos setores é o começo do fim da democracia.
Hoje, o setor público, notadamente as organizações políticas e governamentais,
perdeu o senso de propósito e de responsabilidade. Aliada a isso, a má gestão
tem elevado o chamado custo Brasil representado pelo déficit público, carga
tributária escorchante, ineficiência administrativa, altos custos trabalhistas
e previdenciários, legislação fiscal complexa e corrupção. Mesmo assim, estamos
entre as 10 maiores economias do mundo graças ao setor privado (agronegócio,
manufatura e serviços), à rede de pequenos empreendedores e a diligência da
população economicamente ativa. Uma situação que faz jus à piada que o país
cresce durante a noite quando os políticos dormem.
Quando ocorrem catástrofes naturais, as comunidades afetadas
recebem mais ajuda da própria população, canalizada por meio das entidades
sociais e filantrópicas, que do Estado que sequer consegue evitar o desvio de
verbas, dos bens doados e da exploração política da desgraça alheia.
Se as empresas privadas, por seu turno, falharem, todos
sofrem, pois o efeito se traduz em deterioração do PIB, da arrecadação de
impostos, da geração de empregos, menos recursos para as ações de
responsabilidade social e aumento dos gastos assistenciais do governo.
Não sabemos até quando esse estado de coisas pode perdurar.
Porém, sabemos que só os ideólogos, fanáticos, cínicos e ingênuos creem ou
fingem crer que o melhor dos mundos pode ser construído por um Estado forte tutelando
uma sociedade fraca. A democracia exige uma sociedade forte que cobre
eficiência do governo e imponha limites ao poder do Estado.
Enfim, apesar das merecidas críticas ao setor privado, ele,
junto com as organizações voluntárias civis, tem demonstrado maior eficiência e
eficácia em atender as necessidades individuais, sociais e ambientais dentro
das regras vigentes de uma sociedade democrática baseada na livre iniciativa, responsabilidade
social, propriedade privada e direito de escolha.
Questões para reflexão
De alguma maneira o texto que você acaba de ler muda a sua visão como
gestor profissional ou cidadão? Como?
O que o cidadão comum pode fazer para fortalecer o sistema democrático,
evitando que ele se torne ineficiente?