segunda-feira, 23 de julho de 2012

Será que Peter Drucker tem algo a dizer a respeito de política e economia ambiental?

Gestão e sustentabilidade

Será que Peter Drucker tem algo a dizer a respeito de política e economia ambiental?

Penso que sim, mas o leitor há de julgar...


Recentemente postei uma frase de Peter Drucker num site dedicado à sustentabilidade:  “os cantores populares não solucionarão a crise ambiental; eles nem conseguiriam construir uma estação de esgoto”1.

Surpreso com a quantidade de comentários,  fiquei motivado a escrever este artigo. Assim, espero atender aos leitores que desejavam mais informações sobre o que Drucker pensava da questão da sustentabilidade. E, de quebra, aproveito para homenagear um grande mestre.

Drucker apresentava-se com um escritor e professor e, não raramente, como um ecologista social2. Eu o vejo, acima de tudo, como um estudioso dedicado a investigar como os seres humanos se organizam e interagem para resolver problemas práticos ligados à sobrevivência, prosperidade, produtividade, governabilidade, sustentabilidade, ao desempenho organizacional e humano, eficácia gerencial, auto realização, ética e qualidade de vida.

Enfim, um homem focado em resultados e nos meios eficientes para alcançá-los.

E foi na condição de um estudioso militante que em 1971 ele proferiu uma palestra sobre meio ambiente. Na época, o tema não era tão prestigiado. Pelo contrário. Lembro ter visto (se não me equivoco) na revista Visão um encarte do governo do estado do Mato Grosso que convocava os empresários a investirem no Estado. Pelo lead da matéria em caixa alta percebeu-se que o principal argumento era: “Aqui Não Temos Medo de Poluição”!

Em sua palestra, Drucker contou que se considerava um ambientalista de longa data. Como evidência, mencionou que ministrara um curso sobre meio-ambiente numa pequena Universidade para mulheres em Vermont em 1947 (ou 48). Na época, a ideia de preservação ambiental era estranha e “desenfreadamente reacionária”3.

Hoje, a questão ambiental está na boca do povo e é licito indagar o que Drucker pode nos ensinar que já não saibamos. Afinal, o curso que ele lecionou ocorreu   65 anos atrás e a palestra, na qual se baseia este artigo, há 41 anos.

Minha experiência como leitor de Peter Drucker é que mais que divulgar novos conceitos ou conhecimentos específicos, ele, acima de tudo, nos ensina a pensar com clareza e objetividade.

Portanto, convido o leitor a refletir sobre pontos defendidos por Drucker na palestra.

Primeiro. Antes de enrouquecer exigindo mais verbas públicas e privadas para a causa ambiental, considere se o problema não está mais embaixo, ou seja, na incompetência de gerenciar as políticas e ações ambientais.

Como em muitos empreendimentos humanos, o orçamento tende a ser superior às realizações apresentadas. “O dinheiro não substitui a reflexão; na verdade substituir a reflexão por dinheiro é sempre prejudicial”4.

Ao ler essa passagem percebi a atualidade da observação para a nossa realidade. Não há um bendito dia em que questões relativas à saúde, educação e segurança não sejam exaustivamente discutidas em termos de mais verbas, mais financiamento, mais recursos, mais gastos. Objetivos, prioridades, métodos de gestão, competência, responsabilidades, responsabilização e resultados são ignorados pelo pensamento mágico de que mais dinheiro operará, da noite para o dia, um milagre sem precedentes.

A instituição escolar é ineficiente? Pague melhores salários aos professores e eles darão melhores aulas! Você acredita que é simples assim? Drucker, com certeza, não. Ele não via uma relação inexorável entre a quantidade de dinheiro gasto em uma causa ou empreendimento e a qualidade dos resultados obtidos.  A verdade é que governos, organizações e indivíduos ineptos com dinheiro continuarão ineptos.

Em outras palavras, não há dinheiro no mundo capaz de driblar a incompetência gerencial, objetivos irrealistas e não mensuráveis, falta de foco, planos e execução deficientes, corrupção, demagogia etc. 

Segundo. Drucker também apontou que os ambientalistas mais ruidosos dão a impressão que podemos viver em um universo sem risco. É impossível! Mais ainda em questão complexas como a sustentabilidade.

Em alguns trabalhos de coaching que conduzo,  recomendo ao orientado que esqueça a ideia de vencer por 10 x 0. O importante é manter um saldo de gols favorável e que esse é o tipo de risco que vale a pena correr.

O risco existe e deve ser gerenciado, por isso, Drucker enfatiza que devemos dedicar mais tempo para discutir e chegar a um acordo sobre quais riscos estamos dispostos a correr, quais riscos não são permissíveis e qual o preço que podemos pagar para usufruir de qual nível de segurança ambiental.

Ele adverte que “Quando criarem um imposto sobre o ar e tivermos que pagar por ele, tudo ficará mais caro. Quando aumentarem as tarifas que recaem sobre o consumo de água, eletricidade, transporte individual e coletivo, coleta de lixo etc., o custo de vida aumentará e a conta será paga por todos; e sempre são os pobres os que mais sofrem quando as coisas ficam mais caras”5.

Pergunto: onde está  o líder, o dirigente ou o político que comparecerá à praça pública para esclarecer que os contribuintes arcarão com a conta da sustentabilidade, que a sociedade terá que decidir  o grau desejado de proteção ao meio ambiente e até que ponto deseja manter o atual estilo de vida baseado no consumo massivo?

Drucker não ignorava que os recursos econômicos e materiais são, por definição, escassos. Porém, nas linhas e entrelinhas de sua vasta obra ele ataca sistematicamente a  incompetência, aparentemente, um “recurso” abundante.

Com todo respeito, acrescentaria que a falta de coragem para dizer as duras verdades que o eleitor, o contribuinte, os superiores e subordinados preferem não ouvir  é outra praga que dificulta a resolução dos nossos problemas.

Terceiro. Drucker afirma  que o meio ambiente talvez seja o maior desafio dos nossos tempos e que qualquer solução resultará da aplicação do melhor da ciência e da tecnologia. Nessa guerra precisamos de um choque de gestão,  da participação de cientistas, engenheiros, empreendedores, empresários, artistas e cidadãos. 

Particularmente, eu acredito  que um mundo pautado pela razão e pelo conhecimento atende melhor aos interesses humanos que um mundo entregue às paixões, opiniões não fundamentadas e desejos tresloucados.  Receio  eventos sobre o meio-ambiente  dominados por indivíduos e grupos alternativos que destilam ódio e cujo comportamento agressivo afugenta capitalistas, administradores profissionais, cientistas, engenheiros e tecnólogos.

Certamente Drucker concordaria que o engajamento dos artistas é importante. Contudo, não devemos esquecer que a área de excelência que os tornou populares passa longe da condição de especialistas em crescimento sustentável.

No encerramento da palestra, Drucker convida os ouvintes a preocuparem-se com o como fazer e não com o que dizer. Nas suas palavras, é hora de juntar quem está preocupado com o meio ambiente com quem está capacitado a resolver o problema e não apenas entusiasmado com a empolgação gerada pelo movimento ecológico.

- “Não é possível sustentar a empolgação sem RESULTADOS.”

Por Eugen Pfister


Notas

1.        Wartzman, Rick, Drucker em 33 Lições: As Melhores Aulas do Homem que Inventou a Administração, Edição e
          introdução de Rick diretor-executivo do Instituto Drucker, São Paulo, Editora Saraiva, 2011, pg.69.
2.        The New York Times, a Pioneer in Social and Management Theory, Is Dead at 95.  By Barnaby J. Fedder,
          12/11/2005. (http://www.nytimes.com/2005/11/12/business/12drucker.html?pagewanted=all)
3.     Wartzman, página 69, obra citada
4.       Wartzman, página, 70, obra citada.
5.       artzman, 74, obra citada.