O QUE PLATÃO DIRIA SOBRE AMAR O SUBORDINADO?
“Os gerentes devem amar os subordinados como
amam a si próprios”. Já ouvi e li algumas vezes afirmações
semelhantes feitas por palestrantes, consultores e articulistas.
Curioso.
Sempre imaginei que gerentes estavam a serviço dos clientes que pagam as contas
da organização, o seu próprio salário e o salário dos subordinados. E, além
disso, o amor é um atributo próprio dos negócios?
Será que
devemos incluí-lo na descrição de cargo gerencial e na avaliação 360º? Será que
o subordinado quer ser amado? Como ensinar ou obrigar alguém a amar outra
pessoa? O que acontece com o gerente que não possui suficiente amor próprio?
Isso sem
falar das complicações de definir o amor. Do o amor romântico não deve ser,
pois faltam dragões, princesas, cavaleiros, trovadores e bruxas. Também não
creio que seja o amor cristão que pede que amemos uns aos outros, pois, nesse
caso, o subordinado também teria que amar o chefe.
O
sentimento amoroso se estende, igualmente, a subordinados incompetentes ou
encrenqueiros conscientes? Oferecer-lhe-emos a outra face?
São
tantos os amores – passional, paterno, materno, filial, sexual, amistoso ou
mesmo o amor narcísico – que, de conceito em conceito, podemos incluir a reação
neurobioquímica que desencadeia o sentimento amoroso, um fenômeno sobre o qual
não temos controle.
Então,
por que colocar a mão nessa cumbuca? Deixemos o tema nas mãos dos poetas que
entendem mais da matéria que insípidos consultores e gerentes. Em vez de amar,
trabalhe com profissionais que você respeite e, no lugar de ser amado,
conquiste o respeito da equipe, dos seus pares, superiores e clientes.
Outras ocupações gerenciais mais objetivas e práticas incluem dar feedback construtivo, manter a equipe informada, negociar recursos junto aos superiores para que o trabalho flua, fazer bom uso dos conhecimentos, habilidades e experiência do subordinado, recompensar e promover os membros da equipe de acordo com o mérito e não o afeto.
Permutar
o amor pela amizade também é uma atitude questionável, na medida em o gerente
maneja informações confidências, deve priorizar necessidades organizacionais e
tomar decisões que podem ferir os interesses particulares dos funcionários.
Coisas que dificilmente resistem a relações mais íntimas, churrascos nos finais
de semana e happy-hours com direito a
troca de confidências.
O
envolvimento afetivo exacerba conflitos de interesses, dilemas morais, induz a apreciações
subjetivas e ações que favorecem subordinados amados ou amigos em detrimento
dos subordinados com quem os vínculos são estritamente profissionais.
Por tudo
isso e algo mais que tenha ficado de fora, líder e liderados estarão mais bem servidos
cuidando dos afazeres pertinentes ao trabalho, clientes, desempenho, problemas
e oportunidades do que discutindo a
relação.
Sim,
caro leitor, devolvamos o amor com suas benesses, dores de cabeça, mistérios e
prazeres à esfera da vida afetiva, sexual, familiar e privada. No mundo dos negócios
a razão é melhor conselheira que o coração. E, depois, há complicações de sobra
nas organizações. Só falta ficar
brincando de “bem me quer, mal me quer”.
Mas, se é para insistir no tema, então que o
amor seja apenas platônico!
Por
Eugen Pfister