Eugen Pfister
A baioneta na sua época foi considerada uma grande invenção, talvez por isso diziam que “com uma ela pode-se fazer tudo, menos sentar-se em cima dela." A frase atribuída a Napoleão Bonaparte pode ser usada para falarmos sobre a motivação. Ela é uma força interna, pessoal, a único que pode nos predispor a fazer algo, inclusive sentar-se em cima dela se não queremos fazer nada. Enfim, pertence ao indivíduo e a ninguém mais.
Um dos papéis da organização e da gerência consiste em prover as condições necessárias para que as pessoas se automotivem. O que, convenhamos, já é, em si, um enorme desafio.
Existem vários obstáculos
colocados à gestão eficaz da motivação humana, e eles incluem desde as
variações de interesses, necessidades e objetivos individuais até as questões
estruturais (sócio-econômico-organizacionais) para atender múltiplas demandas
da motivação.
Sob a perspectiva de cada
indivíduo, é possível encontrar três diferentes perfis: (1) aqueles que
estão 24 horas motivados; (2) aqueles que estão motivados apenas metade do
tempo e, (3) os que estão quase sempre insatisfeitos.
Sendo assim, aproximadamente dois
terços do grupo serão pouco ou nada afetados pelos esforços gerenciais e
organizacionais para criar um clima de satisfação no local de trabalho. O grupo
meio período motivado é o mais susceptível a ser parcialmente influenciado pela
ação externa (gerencial e organizacional).
Mesmo o gerente babysitter*
acaba, mais dia menos dia, percebendo-se impotente diante do complexo mundo da
automotivação. E isso é bom, já que o reconhecimento dos limites contribui para
atenuar o seu sentimento de culpa e desenvolver uma visão realista e pragmática
diante do fenômeno motivacional e da gestão de pessoas.
É preciso clareza e coragem para
aceitar que a função do gerente não é motivar, nem desmotivar e, sim, formar
uma equipe de alta performance e automotivada. Para isso, escolha as pessoas
certas, ou seja, selecione e mantenha uma equipe competente tecnica e
emocionalmente preparada. Em outras palavras, uma equipe adulta e madura que
não reivindique ser motivada para fazer o que deve ser feito.
Preocupe-se menos em motivar e mais em delegar responsabilidade, conceder empowerment (autoridade), prover feedback, desafiar a equipe, envolver o subordinado no planejamento e nas decisões e assim por diante. Acompanhe o dia-a-dia da equipe não apenas por meio de relatórios e reuniões, mas nas condições reais de ambiente e temperatura. Seja justo ao avaliar e tomar decisões quanto a mérito e promoções. Converse com franqueza sobre o potencial e as oportunidades de carreira de cada subordinado. E, se for o caso, torne-se um coach ou um mentor.
Ah! É bom não esquecer: esteja
motivado, dê o exemplo!
No mais, há espaço para a
diversidade humana. Alguns são hábeis em pesquisar, calcular e em encontrar
novas soluções. Outros planejam melhor. Há os que gostam de contatar pessoas,
enquanto outros preferem trabalhar com coisas, equipamentos e sistemas. Coloque
a pessoa certa, no lugar certo e com as ferramentas adequadas e é quase certo
que você terá um profissional ocupado, produtivo e motivado.
Eventualmente, você terá que
lidar com um colaborador talentoso e competente, porém, insatisfeito. Descubra
a causa. Veja o que deve ser feito para recuperar a antiga paixão pelo
trabalho. Se houver saída, trabalhem nela. Caso contrário, o desenlace é a melhor
solução para ambos.
A regra é simples e ela diz que
cada indivíduo é o principal interessado e responsável pelo próprio destino.
Somos a maior autoridade em assuntos relacionados à nossa vida e carreira. Por
conseguinte, não delegue para o seu chefe algo que ele nunca estará preparado
para fazer: cuidar de você, das suas escolhas e de sua motivação.
*
O gerente babysitter é um conceito que usei em vários artigos para criticar as
ideias paternais / maternais que poluem o papel gerencial e reduzem o subordinado
à condição de um ser dependente que precisa ser protegido, paparicado e
manipulado.